que a Diana, aluna de Psicologia B, está a fazer sobre a professora Maria do Céu Barrosa
(versão integral a publicar em breve):
(...) A nossa escola, o ensino e a educação
QUESTÕES:
1- Como foi história da escola secundária Eça
de Queirós. (Breve relato)
A escola foi construída, segundo
ouvia dizer, com a ajuda de entidades estrangeiras, logo a seguir ao 25 de
Abril.
Quando vim trabalhar para aqui, os edifícios
já estavam prontos; vim leccionar os primeiros nonos anos, a opção de Saúde.
Tive logo horário completo, 5 turmas, a 4 horas semanais e uma direcção de
Turma.
A Escola era constituída por 3 Blocos e um
campo de jogos, o limite era no muro do antigo Colégio dos Olivais; havia
professores que davam aulas também na escola da Piscina, que na altura era uma
secção da escola n.º 1 dos Olivais, conhecida por Escola dos Viveiros. Os
viveiros da Câmara ocupavam o espaço onde agora é a Quinta Pedagógica. Mais
tarde, quando o Ministério da Educação adquiriu o Colégio, os Serviços
Administrativos, Conselho Directivo, Biblioteca, e Reprografia passaram para o
Colégio; este tinha 2 edifícios e algumas disciplinas (Música, Teatro, Artes)
foram ocupar o edifício conhecido como "catacumbas", pois a entrada
era pelo piso superior e as aulas funcionavam nos pisos inferiores.
2- Duas histórias que se lembra engraçadas ou
não, breves ou longas da nossa escola.
Tenho muitas e boas lembranças do
tempo que trabalhei aí; vou referir 2 casos, que acho divertidos.
- Quando iniciei o ensino da disciplina de
"Saúde", não havia programa e portanto não havia manual. O Ministério
deu algumas orientações sobre os objectivos, e com a ajuda da Direcção Geral de
Saúde lá fomos organizando a disciplina.
O objectivo geral sempre foi a promoção da
Saúde, quer conhecendo algumas doenças mais comuns, aprendendo a sua prevenção,
quer aprendendo normas de higiene, alimentação racional.
Nesse tempo, fim da década de 70 do século
passado (estou velha, é um facto!), ainda se falava pouco ou nada sobre
sexualidade. Verifiquei a ignorância quase total dos alunos, principalmente
sobre planeamento familiar (cheguei a ter uma turma de 9.º ano com 3
grávidas...)
Assim resolvi, entre outros temas, falar
desses assuntos. Eu fazia os textos, com desenhos ou fotografias, que depois
eram fotocopiados para os alunos. Como conhecia as mentalidades da época,
aconselhava os alunos a mostrarem os textos aos Pais.
A maioria dos Pais até agradeceu; não se
sentiam à vontade para falarem com os filhos e as idades, 14-16 anos, já o
exigia.
Mas houve uma Mãe que não gostou! Queixou-se
ao Director de Turma (era um Professor "formando") e eu convidei-o a
assistir a uma aula.
E assim foi. Para meu espanto, no fim da
aula, após a saída dos alunos, ele vem ter comigo e disse:
- A colega
não me arranja um conjunto de textos!? Eu não sabia nada!
Conclusão: eu estava certa ao escolher
aquele tema! Até havia adultos que não tinham a noção do funcionamento da
sexualidade humana!
- Tive uma turma de 10.º ano, muito fraca,
com alunos muito pouco motivados. Entre estes havia 2 que se distinguiam pela
negativa. A disciplina era "Noções Básicas de Saúde" e entre outros
assuntos abordava-se o problema do cancro, causas, prevenção possível,
tratamento. Num teste um dos tais rapazes - vamos chamar-lhe Zé - resolveu
fazer humor negro, mas com muita inteligência e muito humor... Gostei do que
li, mas tive que lhe dar 0 valores! Ele estava ciente do que tinha escrito e no
dia em que entreguei os testes, rapou o cabelo para eu não o reconhecer...
Chumbou o ano, creio que a todas as disciplinas e no ano seguinte repetiu.
Estava numa turma minha, mas nunca fiz
alusão ao passado, sempre me pautei por respeitar todos, a começar pelos alunos
e seria incapaz de humilhar um aluno. No fim do ano (ele aprovado), despedi-me
de todos, desejando-lhes felicidades e mostrando-me disponível para os ajudar
se tivessem alguma dificuldade.
O Zé ficou para trás, deixou sair os
colegas, veio junto da mesa e disparou:
- Você é uma
gaja Porreira!!!!!!!!!!!!!!!!
Confesso-te: foi o maior elogio que recebi
da parte de um aluno!
3- Duas pessoas que de alguma maneira deixaram
um cunho na nossa escola e porquê?
O Professor Roxo e o Professor
Lemos.
O Professor Roxo tinha Carisma, era uma
pessoa especial, quem o conhecesse bem sabia o quanto era dedicado à Escola.
Vivia para a Escola.
O Professor Lemos, pela sua cultura, pela
sua maneira de ser, pelo seu coração de ouro, pela sua paixão queirosiana, onde
nunca esquece a Escola.
Mas há duas pessoas actuais que vão deixar
cunho na Escola e são já uma referência: o professor Fernando Pinto e o
professor Acúrcio. Tu estes sabes a razão porque os conheces!
4- Acha que o legado de liberdade deixado no
25 de Abril influenciou de alguma maneira o ensino e as relações entre
professores e alunos?
O 25 de Abril massificou o
ensino, foi uma coisa boa, pois até aí só os que tinham possibilidades
económicas podiam estudar.
Os Professores tornaram-se mais acessíveis,
os alunos sentiram-se mais à vontade (alguns abusaram), e os Pais mais
participativos (embora nem sempre a participação seja positiva).
5- Quais as principais diferenças no ensino de
há duas décadas e o actual? Qual a evolução que nota? Acha boa ou má?
Há duas décadas privilegiava-se a
memorização, embora fosse preciso perceber para decorar. Depois a aplicação dos
conhecimentos nem sempre era a mais correta, pois havia muita teoria e pouca
prática.
Hoje (eu não estou muito dentro da evolução
do ensino) há mais facilidades, as novas tecnologias dão uma grande ajuda, que
é de certa forma, positiva, mas acho que facilita demais. Os alunos pouco têm
que trabalhar.
6- Notou que ao longo dos anos se foi perdendo
o respeito entre os professores e alunos e nos alunos entre si?
Pelo que vou ouvindo, sim, o à
vontade tornou-se, em alguns casos, em falta de educação e de respeito, mas aí
a culpa também vem de casa. Os alunos entre si estão mais violentos, tal como a
sociedade, em geral.
7- O que lhe deu mais gozo como professora e o
que menos deu.
O que mais gozo me deu em ser
professora foi ajudar a formar pessoas. Nunca me limitei a transmitir
conhecimentos, às vezes a aula nada tinha a ver com o planificado, mas eu
acabava a hora com a certeza de que tinha ensinado alguma coisa, mesmo que não
fizesse parte dos conteúdos programáticos.
8- O que espera do futuro? Do mundo em geral,
na educação, na sua família (netos e filhos), e do seu futuro.
"O futuro a Deus pertence", diz o povo. Espero que os meus netos, quando crescerem, encontrem um
mundo melhor do que ele está hoje. Mas também têm que fazer por isso. Não é só
esperar que as coisas caiam do Céu!
9- Alguns conselhos aos jovens, pais e
professores.
Não gosto muito de dar conselhos,
mas também só os segue quem quer.
Aos Pais diria que ajudem e ensinem os seus
filhos a voar! Não lhes cortem as asas, mas não lhes facilitam todos os voos!
Li uma vez, (não me lembro onde), que a
nossa vida depende muito de 2 ou 3 "SINS" e de 2 ou 3
"NÃOS" que ouvimos na adolescência.
Os jovens devem habituar-se a sentir que a
vida não é sempre justa e que têm que merecer o que ambicionarem. E ter sorte!
A verdade é que é preciso muita sorte, adquirida com muito trabalho!
Aos professores receito doses grandes de
paciência, respeito pelos alunos e famílias, pelos colegas, e principalmente
por si próprios, actualizando-se e gostando do que fazem (malgré tout), porque
são ÚNICOS!
Ninguém será um dia, médico, engenheiro,
economista, advogado... se não tiver tido Professores!
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