segunda-feira, 20 de abril de 2015

Maria do Céu Barrosa - Presença marcante, Memória notável; o Futuro conta com ela

EXCERTO DE UM TRABALHO MONOGRÁFICO
que a Diana, aluna de Psicologia B, está a fazer sobre a professora Maria do Céu Barrosa
(versão integral a publicar em breve):
(...) A nossa escola, o ensino e a educação

QUESTÕES:

1-      Como foi história da escola secundária Eça de Queirós. (Breve relato)

A escola foi construída, segundo ouvia dizer, com a ajuda de entidades estrangeiras, logo a seguir ao 25 de Abril.
Quando vim trabalhar para aqui, os edifícios já estavam prontos; vim leccionar os primeiros nonos anos, a opção de Saúde. Tive logo horário completo, 5 turmas, a 4 horas semanais e uma direcção de Turma.
A Escola era constituída por 3 Blocos e um campo de jogos, o limite era no muro do antigo Colégio dos Olivais; havia professores que davam aulas também na escola da Piscina, que na altura era uma secção da escola n.º 1 dos Olivais, conhecida por Escola dos Viveiros. Os viveiros da Câmara ocupavam o espaço onde agora é a Quinta Pedagógica. Mais tarde, quando o Ministério da Educação adquiriu o Colégio, os Serviços Administrativos, Conselho Directivo, Biblioteca, e Reprografia passaram para o Colégio; este tinha 2 edifícios e algumas disciplinas (Música, Teatro, Artes) foram ocupar o edifício conhecido como "catacumbas", pois a entrada era pelo piso superior e as aulas funcionavam nos pisos inferiores.
2-      Duas histórias que se lembra engraçadas ou não, breves ou longas da nossa escola.
Tenho muitas e boas lembranças do tempo que trabalhei aí; vou referir 2 casos, que acho divertidos.
- Quando iniciei o ensino da disciplina de "Saúde", não havia programa e portanto não havia manual. O Ministério deu algumas orientações sobre os objectivos, e com a ajuda da Direcção Geral de Saúde lá fomos organizando a disciplina.
O objectivo geral sempre foi a promoção da Saúde, quer conhecendo algumas doenças mais comuns, aprendendo a sua prevenção, quer aprendendo normas de higiene, alimentação racional.
Nesse tempo, fim da década de 70 do século passado (estou velha, é um facto!), ainda se falava pouco ou nada sobre sexualidade. Verifiquei a ignorância quase total dos alunos, principalmente sobre planeamento familiar (cheguei a ter uma turma de 9.º ano com 3 grávidas...)
Assim resolvi, entre outros temas, falar desses assuntos. Eu fazia os textos, com desenhos ou fotografias, que depois eram fotocopiados para os alunos. Como conhecia as mentalidades da época, aconselhava os alunos a mostrarem os textos aos Pais.
A maioria dos Pais até agradeceu; não se sentiam à vontade para falarem com os filhos e as idades, 14-16 anos, já o exigia.
Mas houve uma Mãe que não gostou! Queixou-se ao Director de Turma (era um Professor "formando") e eu convidei-o a assistir a uma aula.
E assim foi. Para meu espanto, no fim da aula, após a saída dos alunos, ele vem ter comigo e disse:
- A colega não me arranja um conjunto de textos!? Eu não sabia nada!
Conclusão: eu estava certa ao escolher aquele tema! Até havia adultos que não tinham a noção do funcionamento da sexualidade humana!
- Tive uma turma de 10.º ano, muito fraca, com alunos muito pouco motivados. Entre estes havia 2 que se distinguiam pela negativa. A disciplina era "Noções Básicas de Saúde" e entre outros assuntos abordava-se o problema do cancro, causas, prevenção possível, tratamento. Num teste um dos tais rapazes - vamos chamar-lhe Zé - resolveu fazer humor negro, mas com muita inteligência e muito humor... Gostei do que li, mas tive que lhe dar 0 valores! Ele estava ciente do que tinha escrito e no dia em que entreguei os testes, rapou o cabelo para eu não o reconhecer... Chumbou o ano, creio que a todas as disciplinas e no ano seguinte repetiu.
Estava numa turma minha, mas nunca fiz alusão ao passado, sempre me pautei por respeitar todos, a começar pelos alunos e seria incapaz de humilhar um aluno. No fim do ano (ele aprovado), despedi-me de todos, desejando-lhes felicidades e mostrando-me disponível para os ajudar se tivessem alguma dificuldade.
O Zé ficou para trás, deixou sair os colegas, veio junto da mesa e disparou:
- Você é uma gaja Porreira!!!!!!!!!!!!!!!!
Confesso-te: foi o maior elogio que recebi da parte de um aluno!
3-      Duas pessoas que de alguma maneira deixaram um cunho na nossa escola e porquê?
O Professor Roxo e o Professor Lemos.
O Professor Roxo tinha Carisma, era uma pessoa especial, quem o conhecesse bem sabia o quanto era dedicado à Escola. Vivia para a Escola.
O Professor Lemos, pela sua cultura, pela sua maneira de ser, pelo seu coração de ouro, pela sua paixão queirosiana, onde nunca esquece a Escola.
Mas há duas pessoas actuais que vão deixar cunho na Escola e são já uma referência: o professor Fernando Pinto e o professor Acúrcio. Tu estes sabes a razão porque os conheces!
4-      Acha que o legado de liberdade deixado no 25 de Abril influenciou de alguma maneira o ensino e as relações entre professores e alunos?
O 25 de Abril massificou o ensino, foi uma coisa boa, pois até aí só os que tinham possibilidades económicas podiam estudar.
Os Professores tornaram-se mais acessíveis, os alunos sentiram-se mais à vontade (alguns abusaram), e os Pais mais participativos (embora nem sempre a participação seja positiva).
5-      Quais as principais diferenças no ensino de há duas décadas e o actual? Qual a evolução que nota? Acha boa ou má?
Há duas décadas privilegiava-se a memorização, embora fosse preciso perceber para decorar. Depois a aplicação dos conhecimentos nem sempre era a mais correta, pois havia muita teoria e pouca prática.
Hoje (eu não estou muito dentro da evolução do ensino) há mais facilidades, as novas tecnologias dão uma grande ajuda, que é de certa forma, positiva, mas acho que facilita demais. Os alunos pouco têm que trabalhar.
6-      Notou que ao longo dos anos se foi perdendo o respeito entre os professores e alunos e nos alunos entre si?
Pelo que vou ouvindo, sim, o à vontade tornou-se, em alguns casos, em falta de educação e de respeito, mas aí a culpa também vem de casa. Os alunos entre si estão mais violentos, tal como a sociedade, em geral.
7-      O que lhe deu mais gozo como professora e o que menos deu.
O que mais gozo me deu em ser professora foi ajudar a formar pessoas. Nunca me limitei a transmitir conhecimentos, às vezes a aula nada tinha a ver com o planificado, mas eu acabava a hora com a certeza de que tinha ensinado alguma coisa, mesmo que não fizesse parte dos conteúdos programáticos.
8-      O que espera do futuro? Do mundo em geral, na educação, na sua família (netos e filhos), e do seu futuro.
"O futuro a Deus pertence", diz o povo. Espero que os meus netos, quando crescerem, encontrem um mundo melhor do que ele está hoje. Mas também têm que fazer por isso. Não é só esperar que as coisas caiam do Céu!
9-      Alguns conselhos aos jovens, pais e professores.
Não gosto muito de dar conselhos, mas também só os segue quem quer.
Aos Pais diria que ajudem e ensinem os seus filhos a voar! Não lhes cortem as asas, mas não lhes facilitam todos os voos!
Li uma vez, (não me lembro onde), que a nossa vida depende muito de 2 ou 3 "SINS" e de 2 ou 3 "NÃOS" que ouvimos na adolescência.
Os jovens devem habituar-se a sentir que a vida não é sempre justa e que têm que merecer o que ambicionarem. E ter sorte! A verdade é que é preciso muita sorte, adquirida com muito trabalho!
Aos professores receito doses grandes de paciência, respeito pelos alunos e famílias, pelos colegas, e principalmente por si próprios, actualizando-se e gostando do que fazem (malgré tout), porque são ÚNICOS!
Ninguém será um dia, médico, engenheiro, economista, advogado... se não tiver tido Professores!

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